quarta-feira, 24 de março de 2010

PELA AUTOGESTÃO PEDAGÓGICA!

PELA AUTOGESTÃO PEDAGÓGICA!


A sociedade capitalista produz uma coisificação da consciência humana e isto é introjetado pelos indivíduos, que passam a se considerar incapazes de produzir o novo. É necessário rompermos com esta ideologia (dominante) e sua tradução nas escolas. O conhecimento passa a ser considerado uma coisa, algo exterior a nós. Ele é uma coisa que devemos procurar fora de nós, talvez nas escolas ou nos meios de comunicação de massas. Para termos o acesso ao “conhecimento” precisamos pedi-lo à algum professor, o saber incorporado em um indivíduo.
Mas a verdade é diferente, pois o saber se desenvolve na práxis, o verdadeiro ponto de partida para uma real apreensão da realidade. As crianças aprendem a falar na sua relação com o mundo, nas suas relações sociais, ou seja, não é na escola que isto ocorre. Nas sociedades pré-capitalistas (pré-históricas, escravista, feudal, etc.) não haviam escolas e as pessoas aprendiam o que era necessário para a sua sobrevivência sem ter que ir à um lugar chamado escola. É na moderna sociedade capitalista que surge a escola e a figura do professor, juntamente com a ideologia de que a “aprendizagem” só pode ocorrer nesta instituição. Por que ocorre isto? Isto ocorre devido ao fato de que mudaram-se as necessidades sociais, pois o modo de produção capitalista precisa de expandir o “conhecimento” e, ao mesmo tempo, controlá-lo para que ele não ultrapasse os limites por ele estabelecido. Assim, torna-se necessário criar uma instituição para desenvolver/controlar o saber. Tais instituições são as escolas, que são controladas pelo estado, direta ou indiretamente (legislação sobre educação, determinação de programas e grades curriculares, burocracia, etc.).
Entretanto, em uma sociedade autogerida, o saber poderá se desenvolver sem entraves e cada indivíduo autonomamente, no interior das relações sociais e através da práxis, poderá desenvolver suas potencialidades, inclusive a produção intelectual. Assim, a pedagogia burocrática será substituída pela autogestão pedagógica. Mas o que fazemos enquanto isso? Nas escolas devemos lutar pela autogestão pedagógica e neste processo de luta, nesta práxis, iremos desenvolver nossa consciência e realizarmos a autogestão pedagógica efetivamente. Assim, quanto mais tivermos interessados, mais iremos compreender a realidade e nos interessarmos em compreendê-la. Este interesse é o ponto de partida para um maior desenvolvimento de nossa consciência e é através dele que iremos nos jogar em leituras, em estudos, daquilo que nos interessa e não daquilo que é imposto pela escola.
O que é a autogestão pedagógica? Podemos concebê-la de duas formas: na escola e fora dela. Na escola, ela é um objetivo, um projeto, que consiste em transformar a relação professor-aluno. O professor adotaria uma pedagogia não-diretiva, ou seja, não seria mais um diretor da aprendizagem dos alunos e sim um orientador. Os alunos realizariam a autogestão pedagógica, ou seja, decidiriam o que e como aprender. Fora da escola, a autogestão pedagógica ocorre na práxis cotidiana, na decisão livre e espontânea do indivíduo de ler, pensar e produzir. Se na escola a autogestão pedagógica pode ser barrada pela burocracia, fora da escola é impossível ser impedida. Por conseguinte, a luta pela autogestão pedagógica na escola é necessária e a autogestão pedagógica fora da escola pode ser uma realidade e isto só depende de nós. Esta última, inclusive, é fundamental para que a primeira se concretize.

* Este texto fez parte da tese estudantil do Núcleo Estudantil do MSL** (atual Movimento Autogestionário) para o Congresso da UNE, União Nacional do Estudantes, em 1995, emb Brasília/DF.
** MSL: Movimento Socialista Libertário

fonte: http://movaut.ning.com/page/pela-autogestao-pedagogica

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