quarta-feira, 24 de março de 2010

Fórum Social Urbano: a luta por uma cidade popular

Fórum Social Urbano: a luta por uma cidade popular

Em contraposição ao Fórum Urbano Mundial, organizado pela ONU no Rio de Janeiro, um conjunto de movimentos sociais do estado promove um Fórum Social Urbano: como projetar, articulando as lutas, uma cidade com mais justiça social? Por Igor Pantoja

forum-1Em tempos de jargões como planejamento estratégico, marketing urbano e cidades globais, diversos movimentos sociais do Rio de Janeiro criam o I Fórum Social Urbano (22 a 26 de março) [ver mais informação aqui], em conjunto com outros segmentos da sociedade civil, como sindicatos, universidades e ONGs. Trata-de de uma construção, portanto, coletiva, diversa, heterogênea e não referida no mercado. Diferentes atividades, com diversas temáticas, objetivos, questões e experiências unidas em torno dos objetivos de justiça social e do que podemos chamar mais legitimamente de cidadania, da perspectiva daqueles que geralmente não têm voz na cidade. Trata-se de uma conquista, um dos resultados dos processos de resistência nos quais estes movimentos têm se enredado, em constante confronto com os agentes capitalistas, sejam eles do Estado ou da iniciativa privada. O Fórum é um grande espaço construído coletivamente com base no reconhecimento mútuo entre movimentos sociais e organizações da sociedade civil, de contraposição ao Fórum Urbano Mundial, organizado pela ONU no Rio de Janeiro no mesmo período.

As perspectivas de uma crítica contemporânea do planejamento urbano como algo que engessava ou burocratizava a vida na cidade, muito frequente nos últimos 30 anos, vêm sendo apropriadas pelos capitalistas (no mesmo período) no sentido de estimular a fragmentação da vida urbana e o aprofundamento das desigualdades, já que as soluções passam a se dar pelo mercado – muitas vezes via Estado. As soluções participativas (mais valeria dizer participatórias) se tornam um modelo a ser seguido, com cartilhas de como “implementar” a participação (geralmente inventada pelos agentes público-privados, ou ONGs) e se mostram inócuas quando o objetivo é estabelecer maior atuação do cidadão sobre a cidade, por ele praticada.

forum-2As críticas à atuação do Estado passam a servir de salvo-conduto às ações de mercado. Os dilemas dos planos estratégicos e do marketing urbano são como conciliar da melhor maneira os interesses especificamente capitalistas com as aspirações da sociedade civil-empresarial, e é a partir deste pressuposto que o Fórum Urbano Mundial, organizado pela ONU, está sendo construído. O Fórum Social Urbano nasce também como uma resposta a isso, como uma possibilidade de autonomia da organização coletiva, fora dos modelos referidos ou das parcerias público-privadas que têm produzido nossas cidades.

Revitalização de áreas portuárias e centrais, Mega-eventos e globalização das cidades, Justiça ambiental e Criminalização da pobreza são os eixos de estruturação dos debates do Fórum Social Urbano, e não foram escolhidos à toa. São estas as principais referências das consultorias e instituições de financiamento multilaterais para as cidades, os pontos principais da construção de cidades contemporâneas – ao menos daquelas que se pretendem globais, como o Rio de Janeiro ou São Paulo. Por isso creio que a construção de um debate sobre estes temas a partir da perspectiva dos movimentos sociais é um esforço criativo, do qual surge uma voz polifônica contra o “pensamento único” que tem se instalado na gestão urbana contemporânea. Pode significar a valorização da cidade a partir dos usos de seus habitantes, da luta pela cidade-uso em detrimento da cidade-mercadoria. Pela disputa do sentido de cada um destes termos no debate.

É, portanto, a partir da experiência urbana, com todos seus dramas e vicissitudes que os movimentos, organizações e indivíduos que constróem este Fórum Social Urbano o fazem: a partir das ocupações sem-teto, das populações moradoras de favelas, dos coletivos pelo direito à comunicação, das populações tradicionais em processo de expulsão de suas áreas (como a zona portuária), dos pobres criminalizados que lutam por uma cidade com maior justiça social. Múltiplas realidades em contato para produzir reflexões e ações conjuntamente, para fortalecer as lutas locais e oferecer uma perspectiva popular para o Rio de Janeiro.

Atenção!

Movimentos sociais e organizações do Rio de Janeiro convidam todos e todas para o I Fórum Social Urbano, que ocorrerá do dia 22 ao dia 26 de março no Espaço da Ação da Cidadania, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. O evento ocorrerá em paralelo ao Fórum Urbano Mundial, promovido pela ONU e pelo governo, e é uma contraposição às propostas neoliberais para as cidades. Veja aqui o blog do evento.


http://passapalavra.info/?p=20511

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